quinta-feira, 21 de março de 2013

Páginas de Diário

O mar foi sempre visto como palco de aventuras arriscadas que ora terminam em tragédia ora são bem-sucedidas.

Os alunos do 8º ano redigiram páginas de diário, encarnando personagens que se debatem no turbilhão das ondas do mar…


Dia 17 de agosto de 1930

Querido Diário,

         Aqui estamos, mais um dia, mais uma noite tenebrosa sem notícias do meu amado. Passaram exatamente dois meses, dezanove dias, doze horas e sete minutos, desde a última vez que vi William. Cada minuto que passa parece que mais uma faca é espetada no meu frágil coração. A única memória que me tem mantido viva é a do dia do nosso casamento. Casei-me com William quando tinha dezasseis anos, numa tarde de verão, junto ao mar, numa linda cerimónia preparada, com muito amor e esforço, pelos nossos pais. O meu vestido foi feito pelas mulheres da aldeia que nos conhecem desde bebés e, nesse maravilhoso dia, tornei-me senhora Samantha Black. Tudo estava tão perfeito, até que William foi chamado para ir numa viagem até à Índia. Implorei-lhe que não embarcasse, mas, como ele sempre adorou uma boa aventura, ignorou o meu pedido e, com um sorriso, disse que voltaria para mim num abrir e fechar de olhos. Parece que passou uma eternidade… Agora, passo os dias a costurar mantas, ao lado de minha mãe, para vender na feira, mas mantenho sempre o olhar vigilante na janela, com a esperança de ver o navio que levou William de mim regressar. Todas as noites, com as lágrimas a escorrer pelo rosto, rezo por outra oportunidade de revê-lo.

         Com muito amor,

                                                                           Samantha Black.


                                                                                     Marta Sousa, 8ºA

28 de agosto de 1977

Querido diário,

Já não tenho palavras para falar das mágoas que me vão cá dentro. Já não tenho mais lágrimas para chorar o que me vai na alma. Mas sim, vou continuar à espera. Como dizem, a esperança é a ultima a morrer!

Foram embarcados cinquenta e um homens, contando com ele. E isso fez com que haja mais cinquenta desesperadas, como eu.

Estamos à espera, a rezar, por quem amamos.

Todos os dias, nós vamos à igreja pedir a Deus e aos Santos que os ajudem a regressar, a atravessar toda a vastidão de oceano que nos separa. Depois, saímos em silêncio e vamos à praia. Fechamos os olhos, vemos com o coração. Durante cinco minutos, imaginamos um barco, ao longe, a chegar.

Por agora, temos de nos contentar com isto, e com o sonho muito, muito vivo de os ver regressar, sãos e salvos.

Sempre que me sento aqui, neste parapeito com vista para o mar e para o mundo, ouço uma vozinha. Ela diz-me que já não falta tanto, já não falta muito. E para esperar pelo amanhã…

Saudades,

                   Ana


Maria Inês Cardia, 8ºA




Porto, 21 de abril, 2007

Querido diário,

 Ultimamente, não tenho podido escrever-te, mas hoje contar-te-ei tudo. Como sabes, um marinheiro é uma pessoa corajosa, destemida, disposta a correr perigos, que navega ao sabor da maré, do vento, contudo há situações em que o medo toma lugar, sobrepõe-se a tudo e todos. Foi o que aconteceu!

Estávamos eu e os pescadores no barco, vendo a pesca dos meus tripulantes, com um mar aparentemente calmo, azul, refletindo a cor do céu. A pescaria corria bem, estávamos prestes a rumar ao porto, quando surgiu uma enorme nuvem cinzenta, carregando com ela raios e chuva. Tentámos escapar, mas não tivemos hipóteses. O mastro ameaçava tombar e o barco desmantelar-se, quando uma onda tombou o barco. Só pensei em ir buscar o bote insuflável onde, por precaução, guardáramos os mantimentos.

Eu e mais quatro pessoas vivemos naquele bote cinco dias. Imaginas como era viver na incerteza… se no dia seguinte teríamos de comer e de beber, ou se estaríamos vivos? Certamente que não.

Mas, num dia já solarengo, avistámos um navio de busca, provavelmente à nossa procura. “Acabou o pesadelo”- pensei.

E assim foi.

Por isso escrevo-te hoje, meu amigo fiel, e peço que guardes em ti esta história, e agradeço-te por, mais uma vez, me ouvires.

Até breve,

Diogo

Diogo Duarte, 8º B     




                                                                                           26 de fevereiro de 1960

Querido Diário,

 Mais um dia se passou desde a sua partida. Tenho-me encontrado com as outras mulheres à beira-mar para fazermos a renda de bilros. Todas nós aguardamos e acreditamos no regresso dos homens das nossas vidas.

 Enquanto ali estou sinto-me mais perto dele.

 Olho o mar, lembro-me do meu amado, mirando as paisagens que me rodeiam. O sol lembra-me os seus cabelos amarelos e o azul do mar os seus olhos hipnotizantes.

 A nossa casa continua com o seu perfume, desde a sala até ao quarto. Os nossos filhos são o nosso grande tesouro e acredito que o que possa encontrar noutros países nunca será tão grande como o que já temos. Na sua ausência, eles perguntam-me por ele e transmito-lhes o quão valente é. À hora de dormir, conto-lhes as histórias que um dia me ensinou, o que me deixa preenchida, aguardando a sua chegada.

 Apesar de não saber o dia em que voltarei para os seus braços, a sua presença continua em cada canto da casa, despertando em mim a certeza do seu regresso.

 Deixo aqui registada a minha saudade e a esperança de que regresse rapidamente.

Vou tentar descansar…

Mariana

Mariana Correia, 8ºC



Alto Mar, 29 novembro 1973


Caro diário,


Hoje faz anos o meu querido filho Emanuel, mas não posso dar-lhe um mísero abraço, devido ao facto de estar em Alto Mar. Aqui só vejo água, água e mais água… e o que queria mesmo era sentir o cheirinho a queimado da lareira e a companhia da minha família.

Esta tarde, estive quase uma hora a ver fotos da minha família que já não vejo há 3 meses e a saudade parte-me o coração. Só me lembro da última vez que estive com eles. Foi um dia tão triste…Sentia-me revoltado por ter sido obrigado a partir nesta viagem, mas sou o marinheiro mais famoso de Lisboa. Às vezes, penso que, se na altura mais importante, tivesse escolhido a primeira opção, seguindo o que mais gostava, não o que os meus falecidos pais queriam… mas já passou e não posso fazer outra escolha… Talvez tivesse outro trabalho, mas não teria conhecido a minha querida amada, nem teria o meu querido filho…confunde-me imenso!!! Será que fiz a escolha certa?! Agora, o que passou, passou e tenho de seguir em frente.

Vou dormir, porque amanhã tenho um grande dia pela frente e espera-me uma noite tranquila. Obrigado por seres alguém leal, alguém com quem posso desabafar, obrigado por tudo!

Tony


Filipe Real, 8ªE



27 de fevereiro 2013


Querido diário,

Já há muito tempo que não te escrevo e peço desculpa por isso, mas a verdade é que fui a mais um dos meus torneios de surf. E foi incrível.

Realizou-se na maravilhosa praia de Honolulu, no Havai. É uma bela praia, com ondas perfeitas e uns escaldantes trinta e cinco graus.

 O campeonato foi extremamente competitivo, portanto tenho de contar-

-te todos os pormenores.

Comecei por aterrar na fantástica ilha de Honolulu, e, ainda antes do torneio começar, já sabia que ia ter uma grande felicidade naquela ilha. Durante dois meses, treinei e treinei até não poder mais aguentar-me em cima da prancha. Mas, finalmente, chegou o dia que iria decidir a minha carreira como surfista.

 Os concorrentes eram, como já esperava, os vinte melhores, sendo que eu era o vigésimo no ranking mundial. No final da primeira parte do torneio, passaram à fase seguinte dez concorrentes, comigo a ocupar a décima posição.

Na segunda ronda, tive de disputar a passagem à seguinte com os cinco concorrentes à minha frente, sendo que, os outros cinco concorrentes concorriam também entre si, passando apenas o primeiro das duas séries. Foi muito difícil… mas lá acabei por me apurar.

E ali estava eu na grande final à espera de um pouco de sorte que esteve do meu lado e que me fez ganhar o torneio.

Portanto, como vês, querido diário, por vezes, estamos destinados a vencer, basta empenharmo-nos e acreditar que é possível!

Abraços do teu grande amigo,

Tomás

Tomás Moreira, 8º E



                                                            04h30, 27 de março de 1957 

Querido amigo,

 Sinto-me perdido, aqui, no meio do nada. Os dias passam, eu sei, mas a saudade, esta maldita saudade, que me puxa pela cabeça, fazendo que uma transparente e cristalina gota de água escorra pela minha cara e, mais uma vez, ouve-se o soar da campainha de troca de turno, ou seja, posso ficar aqui a desabafar mais um pouco contigo.

Juro-te, se eu fosse uma planta, estaria morta, sem o meu caule, a minha raiz, o meu solo, a minha força, quero dizer que sem o meu amor da minha vida, o meu pilar, não consigo ter aquela energia que me mantinha o sangue quente. Se me entendes…Agora, a minha vida é monótona e, algumas vezes, chega a ser irritante!

Sim, eu sei que lhe posso escrever uma carta, mas não é o mesmo…Preciso dela, aqui…

Não sei porquê, mas ando enjoado há dias, deve ser da falta dos deliciosos pastéis da minha mãe, que me mantiveram atento dos meus 4 anos até agora.

Mas bem, está a chegar a minha hora de trocar de turno e, digo-te já, vai ser tão…não sei como dizer…

Espero que não te fartes de me ouvir, és o único amigo com quem posso desabafar e, sem ti, sufocava…

Do Oceano para ti,

                                                                                     Robert

Márcia  Santos, 8ºD






Oceano Atlântico, 15 de maio de  1985

Querido Diário:

A vida em alto mar não tem sido nada fácil. Passo os meses a navegar com a tripulação e nada me entristece mais que o facto de não poder estar com a Maria, a mulher da minha vida, que foi abandonada na Foz, sabendo que eu teria que partir. O vasto e profundo oceano recorda-me o seu olhar distante, o cheiro a maresia lembra-me as tardes que passávamos juntos na praia a recolher conchas.

Costumava contar-me histórias da sua vida e de como abandonara a pradaria para ir viver para a Foz, ou então olhava para as gaivotas silenciosamente enquanto me acariciava a mão. Eu ficava também calado a contemplar os seus olhos cativantes, os lábios finos ou as rosadas maçãs do rosto, enquanto o sol lhe batia na face.

Hoje, é o dia do seu aniversário e ela está em casa sozinha à espera do seu homem que ganha a vida a vida viajando pelos oceanos. Há uns meses, antes de partir, pensei em ficar, mas lembro-me então da manhã em que ela me agarrou as mãos, deu-me um beijo e, olhando-me nos olhos, disse para eu ir, que rezaria por mim e que, quando eu voltasse, estaria sobre a areia molhada para me abraçar.

Anseio por esse momento mais do que nunca. Ela é o meu anjo da guarda que me dá força para não desistir desta viagem.

Um abraço inalcançável,

Gonçalo
Sara Ramos, 8ºE